Desde janeiro deste ano, mês em que a Coronavac começou a ser desenvolvida na China, o Conexão Política passou a acompanhar o andamento da substância e as etapas do processo para alcançar o nível necessário para ser aplicada como imunizante.
Em abril, a China informou que os dados foram promissores, passando a receber aprovação em testes pré-clínicos.
No mês seguinte, houve aprovação para que testes fossem aplicados em humanos. Segundo o país asiático, os dados continuaram sendo promissores. Com isso, a China passou a divulgar essas informações.
Em junho, tendo as fases I e II supostamente promissoras e aprovadas em humanos, o Instituto Butantan, que é uma instituição pública ligada à Secretaria da Saúde de São Paulo, assinou uma parceria com a Sinovac — biofarmacêutica chinesa — para que testes fossem executados em diferentes centros de pesquisa espalhados pelo Brasil.
De lá pra cá, a fase III passou a ser alvo de muitas polêmicas e questionamentos.
Essa fase, que visa comprovar a eficácia da vacina como imunizante contra a Covid-19, ainda não foi divulgada publicamente.
Nesta quarta-feira (24), o índice de precisão da Coronavac foi prorrogado mais uma vez.
Os dados em questão, que já tinha tinham sido postergados, seriam expostos ontem (23). Contudo, o governo do estado de São Paulo disse que por causa de uma solicitação do laboratório Sinovac, a divulgação teve de ser adiada, uma vez que a empresa deseja unificar os dados de outras localidades onde a vacina foi testada com as informações obtidas no estudo brasileiro.
Contudo, a publicação dos resultados deveria ter ocorrido no dia 15 de dezembro, ou seja, duas prorrogações numa escalada de tempo muito curta.
Agora, segundo as autoridades, a previsão é que as informações sejam apresentadas em 15 dias.
Outro fator chamou bastante atenção: a porcentagem da eficácia.
De acordo acordo com o Palácio dos Bandeirantes, a vacina tem eficácia superior a 50% e terá a solicitação de registro junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
E mesmo diante de tantos atrasos e diversos questionamentos sobre a eficácia, o governo de São Paulo continua fazendo aquisição de milhões de doses da substância.
Doria, que tendo abraçado o slogan ‘A Vacina do Brasil’, segue na empreitada de tentar distanciar a ligação do país asiático no desenvolvimento da substância. Porém, conforme vem frisando o Conexão Política, a medicação é elaborada pela farmacêutica chinesa Sinovac Life Science em parceria com o Instituto Butantan. Portanto, a substância é primariamente chinesa.
A desconfiança da comunidade científica
Uma reportagem da revista Exame, publicada nesta quarta-feira (23), aponta uma série de questionamentos feitos pela comunidade científica a respeito da Coronavac,
De acordo com a matéria, os cientistas brasileiros que estão acompanhando o processo da vacina no país dizem que poucos voluntários receberam a dose de imunização na Turquia e na Indonésia. Logo, a declaração feita pelo Palácio dos Bandeirantes não justificaria um suposto problema de divergências nos testes
“A maior parte dos testes aconteceu no Brasil mesmo”, diz Fernando Reinach, biológo, PHD em biologia celular e molecular pela Cornell University e autor do livro ‘A Chegada do Novo Coronavírus no Brasil‘.
“O novo adiamento dos resultados dos testes de fase 3 da Coronavac levantam a suspeita de que possa haver algum problema com a eficácia da vacina ou com o ensaio clínico do Butantã”, acrescenta Reinach.
Segundo a revista, há um temor de que os resultados sejam inconclusivos ou que a vacina possa ter uma baixa eficácia, uma vez que o Instituto Butantã ainda não trouxe à tona os dados da III fase.
“O problema é que a falta de uma explicação mais consistente sobre o motivo de tantos adiamentos começa a deixar os cientistas desconfiados de que pode ter havido algum problema com a vacina”, argumenta Maria Amélia Veras, epidemiologista da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo e do Observatório Covid-19 BR.
Ela frisa que todos estavam no aguardo dos dados que já tinham sido postergados e que finalmente seriam entregues nesta quarta-feira, conforme já tinha a anunciado pelos órgãos competentes. Sem compreender a prorrogação, o sentimento foi de espanto.
“Toda a comunidade científica esperava que os resultados fossem divulgados nesta quarta, conforme o Butantã havia anunciado, e ficamos pasmos com o novo adiamento”, assegurou Veras.
Ainda de acordo com a reportagem, outro motivo de preocupação alegada por eles é que nem mesmo a China registrou a vacina.
“Não sabemos muito bem o que se passa na China, por se tratar de um país fechado”, afirma Gonzalo Vecina, médico sanitarista e presidente da Anvisa entre 1999 e 2003.
“Pode ser que estejam tomando um cuidado especial ou estejam envoltos em questões burocráticas, mas o fato é que sem o registro da vacina na China é impossível haver um registro pela Anvisa no Brasil”, concluiu ele.