Diga com quem Magno Malta andas, e ele te dirá quem és: “Guerreiros da família”. Ele, o presidenciável Jair Bolsonaro, seu filho Flavio Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia, que recepcionou a turma na terça (6), na sede da Associação Vitória em Cristo, no Rio.
Um dia depois, lá estavam o senador Malta (PR-ES) e o deputado Bolsonaro lado a lado de novo, num plenário da Câmara que lotou para acompanhar o pré-candidato à Presidência se filiar ao PSL. Malta só foi menos aclamado do que a estrela da noite. Chegou embalado pelo coro de “vice! vice! vice!”.
Horas antes, em seu gabinete, Malta, pastor evangélico que deu a entrevista à Folha com uma Bíblia à frente, desconversou ao ser questionado sobre conversas para que assuma como nº 2 na chapa do capitão da reserva.
“Quem fala isso são as redes sociais. Sou candidato à reeleição. Agora, minha vida está na mão de Deus. Do meu futuro não sei. A única coisa que sei é que o presidente será Bolsonaro, eu de vice ou não.”
Nos bastidores, o homem que Malafaia descreve como “político evangélico de maior prestígio no país” opera para se viabilizar como opção. Demonstrações públicas de afeto vêm em fotos juntos publicadas nas redes dele e de Bolsonaro. O que Malta admite: ambos têm muito em comum, das bandeiras que defendem ao jeito pouco sutil de fazê-lo.
Na quinta (8), por exemplo, o senador decidiu homenagear o Dia da Mulher reproduzindo no Instagram uma cena de “O Grande Gatsby” em que Leonardo Di Caprio oferece um brinde: “Parabéns para todas as mulheres de verdade. Para vocês que nasceram homens e pensam que são mulheres, esperem o 1º de abril”.
Na quarta (7), ele publicou uma reprimenda sua transmitida pela TV Senado. “O Supremo votou agora que o macho que se sente transgênero pode entrar no banheiro de mulher, e a minha mulher, minhas filhas não podem falar nada, para não constrangê-lo. Mas o cara pode mijar em pé, respingar o vaso todo”, disse. Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal autorizou transexuais a alterar o registro civil, sem que precisem ter feito cirurgia para mudar de sexo.
Ele diz à reportagem não ser homofóbico. A esquerda o rotula assim, e ela “ama Fidel Castro e Che Guevara, que matavam homossexuais”, diz —e lembra de um importante quadro do PR capixaba, “a travesti Moa” (transexual morta em 2017).
“O povo se enojou do politicamente correto”, afirma em seguida, num eco do discurso bolsonarista. “A gente acredita num Brasil que volte a cantar o Hino Nacional, que não glamoriza vagabundo.”
Não é só verbalmente que o congressista faixa preta em jiu-jítsu bate. Baiano com domicílio eleitoral no Espírito Santo, o senador desde 2003 (1/4 de sua vida) malha “no mínimo três horas por dia”.
Conta que é amigo do ator americano Steven Seagal, com quem compartilha o amor pelo MMA. Sobre uma mesa do gabinete, ao lado de camisas do Flamengo, dispõe a luva com que Anderson Silva nocauteou Vítor Belfort.
Na internet há um vídeo viral em que ele critica manifestantes contra o governo Michel Temer usando uma regata onde se lê Whey —sua assessoria confirma que ele é adepto “de suplemento alimentar”.
Malta já apoiou Temer e depois pediu sua renúncia. Também subiu no palanque de Dilma Rousseff, que seria destituída com ajuda do senador. “E em 2002 viajei pelo Brasil ‘desatanizando’ Lula. Mas o eleitor sabe que, assim como ele, eu fui enganado. Fizeram [os petistas] striptease moral em praça pública.”
Não que acredite haver político irrepreensível em Brasília. A Lava Jato, em sua opinião, tem como mérito passar o Brasil a limpo após três temporadas e meia de PT no Planalto.
“Deus levantou a tampa do esgoto e nós passamos a ver os ratos, conhecemos os ratos e sabemos seus apelidos. Passaram 15 anos atacando família. Por menos que isso, Deus destruiu Sodoma e Gomorra.”
Não escapa nem Bolsonaro, que acumula imóvel próprio e auxílio-moradia e, com a família, multiplicou o patrimônio durante sua temporada parlamentar.
Indagado sobre o tema, o senador diz não esperar que “Deus mande um anjo para a eleição”. “Se ele é humano, vai ter falhas. Mas são falhas absolutamente menores do que as da maioria.”
O próprio currículo tem seus solavancos.
Em 2016, alguém usou a rede de computadores do Senado para apagar menções a escândalos da página de Malta, no dia em que Dilma foi à Casa se defender no processo de impeachment. Na época, sua assessoria disse: “Fomos surpreendidos, desconhecemos, vamos apurar”.
Dias antes, a Folha trouxe à tona uma troca de e-mail de 2014 entre dirigentes de uma fabricante de móveis de cozinha, com indícios de repasse não declarado de R$ 100 mil para Malta.
Ele negou ter recebido dinheiro e disse que voou no avião da firma para fazer palestras sobre “o combate à pedofilia, a redução da maioridade penal e a luta contra a legalização da maconha”.
Todas causas centrais em sua vida política (fora dela, canta na banda gospel Tempero do Mundo). Para defendê-las, Malta capitaneia um plano para multiplicar a frente cristã (somando esforço com católicos e espíritas) no Congresso.
Se hoje há 3 evangélicos entre 81 titulares no Senado, quer encorpar a bancada religiosa elegendo um senador por Estado. Vislumbra a candidatura do cantor gospel André Valadão por Minas e a de Flavio Bolsonaro pelo Rio.
Se é de extrema-direita? “Não é direita, é endireita, de endireitar o Brasil. Agora, se me chamam assim porque eu quero emparedar vagabundo, muito obrigado por isso.”