Jaques Wagner tem nome colocado, mas vice-governador, do PP, fala em ser candidato, assim como o PSD pensa em lançar nome próprio à sucessão de Rui Costa.
À frente do governo da Bahia desde 2007, quando destronou o grupo do ex-senador Antônio Carlos Magalhães, o PT tem pela frente no estado uma delicada costura para evitar baixas na coligação em torno do nome do senador Jaques Wagner, provável candidato da sigla ao Executivo local em 2022. Os possíveis entraves estão nos dois maiores aliados do atual governador, Rui Costa: PP e PSD.
O vice-governador e secretário estadual de Planejamento, João Leão (PP), reivindica-se candidato, enquanto pessedistas cogitam o nome do senador Otto Alencar, de grande visibilidade na CPI da Pandemia – ambos ex-aliados de ACM, cujo herdeiro político, ACM Neto, deve ser candidato pelo DEM. Alencar, dizem políticos próximos, não está tão disposto a entrar na corrida pelo governo e vê com melhores olhos a vaga para concorrer à reeleição ao Senado. De todo modo, dizem pessedistas baianos, o partido mantém disposição de ter um cabeça de chapa.
Tanto no PP quanto no PSD, as postulações têm como pano de fundo a proibição de coligações nas eleições proporcionais e as estratégias das duas siglas de impulsionar a eleição de deputados estaduais e federais através do lançamento de candidatos majoritários. A ideia é a de que “time que não joga, não tem torcida”, nas palavras de um parlamentar do PSD. O veto às coligações nas eleições proporcionais, que pela primeira vez será posto em prática nas eleições nacionais, contudo, ainda pode mudar na reforma política em tramitação no Congresso. A Câmara aprovou o fim da regra e o projeto seguiu ao Senado, onde a volta das coligações enfrenta resistência.
“A lógica do PP é parlamentarista, de fazer bancadas no Parlamento. Com a proibição das coligações, ter candidatura própria é fundamental”, diz Leão, vice de Costa. “Já chega de os partidos aliados serem só coadjuvantes”, reclama o senador Ângelo Coronel (PSD), aliado de Otto Alencar. Pelos lados do PT, Jaques Wagner e aliados estão otimistas com a manutenção das alianças. “Seguramente vamos chegar juntos à eleição de 2022. Vamos sentar e construiremos uma chapa”, afirma Wagner.
Um componente importante na equação será a decisão de Rui Costa de continuar ou não no governo até o fim do mandato. Caso ele renuncie em abril, prazo de desincompatibilização para concorrer a algum cargo na eleição, como o Senado, Leão passaria nove meses no governo, gesto visto por petistas como aceno para que o vice-governador mantenha o PP na aliança. João Leão, no entanto, tem dito que é candidato. O vice, que refere a Wagner como “feiticeiro” por tê-lo aproximado de Rui Costa, avisa: “agora o feitiço sou eu, vou enfeitiçá-lo”, disse a VEJA.
Aliados de Rui Costa também dizem, contudo, que a vaga ao Senado na chapa petista será importante para manter os aliados aglutinados. Neste ponto, lembram que Jaques Wagner concluiu o mandato até o final, em 2014, para deixar a candidatura de senador vaga e assim contribuir com a candidatura de Costa. Na ocasião, Otto foi candidato ao Senado e se elegeu. Wagner, sem mandato ao final daquele ano, acabou assumindo o Ministério da Defesa do governo Dilma em janeiro de 2015.
Se as conversas com os aliados serão delicadas, o PT poderá contar com dois trunfos relevantes na Bahia: o fator Lula, que chegou a receber 66% dos votos baianos no primeiro turno em 2006 (patamar mantido por Dilma Rousseff e Fernando Haddad em 2010, 2014 e 2018), e a boa avaliação sobre o governo Rui Costa — 66% aprovam sua gestão, segundo o Paraná Pesquisas. Com o nome associado ao do ex-presidente no levantamento do instituto, Jaques Wagner sobe dez pontos e chega a 35%, encostado nos 37% de ACM Neto.