Com mais de R$ 1,8 bi gastos em 2020 com montagem de leitos de UTI, governo da BA poderia ter comprado vacinas para toda população — Foto: Montagem/G1
Com os R$ 1,85 bilhão gastos em 2020 no combate à pandemia da Covid-19, o governo da Bahia poderia ter comprado vacinas suficientes para imunizar toda a população do estado, com as duas doses dos imunizantes, mesmo com a vacina mais cara de todas.
De acordo com informações do governo baiano, dos R$ 1,85 bilhão desembolsados, R$ 1,5 bilhão foi referente a montagem de leitos, equipes de profissionais e medicamentos. Os outros R$ 350 milhões foram gastos com cestas básicas para estudantes e centro de acolhimento.
O G1 levantou junto ao Ministério da Saúde (MS) os valores unitários das doses das vacinas já adquiridas pelo governo federal. Com esses valores, foi possível concluir que o montante gasto pelo governo do estado em 2020, para combater a pandemia, dava para imunizar toda a população baiana, se o governo conseguisse fazer a compra direta dos imunizantes.
Segundo o Ministério da Saúde, a vacina mais cara adquirida pela pasta foi a CoronaVac, junto à Fundação Butantan, com cada dose custando R$ 58,20. Se for levado em conta a estimativa do IBGE, de que em 2020 a população baiana totalizava 19.930.634 pessoas, custaria ao governo do estado R$ 1.737.925.797,6 para comprar as duas doses suficientes para imunizar toda a população.
Ainda segundo o MS, as doses da AstraZeneca/Oxford importadas junto ao Instituto Serum, da Índia, em negociação intermediada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), cada dose sairia por R$ 30. Isso significa um gasto de R$ 895.838.040 para vacinar todos os 14.930.634 moradores da Bahia, menos da metade dos R$ 1,85 bilhão gastos em 2020.
Já o custo da AstraZeneca/Oxford via Covax Facility, ainda segundo o Ministério da Saúde, sai por US$ 4,31. Com o dólar valendo cerca de R$ 5,77, cada dose sairia por R$ 24,86. Por esse valor, o governo da Bahia gastaria R$ 742.610.915,51 para vacinar toda a população baiana.
A dose mais barata, de acordo com os preços levantados junto ao Ministério da Saúde, foi a da AstraZeneca/Oxford, estabelecida no contrato de encomenda tecnológica para entrega de 100,4 milhões de doses pela Fiocruz: R$ 20. Com isso, seriam gastos R$ 597.225.360 para vacinar toda a população baiana, menos de um terço dos R$ 1,85 bilhão desembolados em 2020.
Nesta quinta-feira (11), o governador Rui Costa anunciou que acionou a Procuradoria Geral do Estado (PGE) e a Secretaria da Saúde (Sesab), e determinou que os órgãos tomem as medidas necessárias, com urgência, para a celebração do contrato com o Fundo Soberano Russo para aquisição da vacina Sputnik V.
A determinação do governador da Bahia ocorreu após a Anvisa aprovar resolução que oficializa as regras para que estados, o Distrito Federal, municípios e o setor privado possam importar medicamentos e vacinas contra a Covid-19, mesmo aqueles que não tenham aprovação para uso no Brasil.
Custo de leitos de UTI x vacinas
O G1 também levantou junto à Secretaria de Saúde do Estado da Bahia os custos para implantação e manutenção de leitos de UTI Covid-19.
Através de nota, a Sesab informou que o custo de implantação de um leito de UTI Covid pelo estado gira em torno de R$ 141.265,53. Já o custeio diário é de R$ 1.600, incluindo recursos humanos, medicamentos e gases.
Com esse valor da instalação de um leito, seria possível comprar 2.427 doses da vacina mais cara e 7.063 doses da mais barata. Já com o montante gasto diariamente na manutenção de um leito, poderiam ser compradas, por dia, 27 doses do imunizador mais caro e 80 doses do mais barato.
A Sesab destacou que o valor de implantação de um leito de UTI pode variar, a depender do tipo de equipamento escolhido para a montagem. “O Estado trabalha com camas elétricas e monitores de última geração, por exemplo. Quanto ao custeio diário, cabe esclarecer que a Sesab nunca faz o credenciamento de um leito isolado, e sim por blocos, com um lote mínimo de 10 leitos”, diz a nota.
Ainda segundo a pasta, em fevereiro deste ano, a Bahia possuía 1.114 leitos de UTI, sendo que 224 eram mantidos pelo Ministério da Saúde. Os outros são leitos SUS, ou seja, têm financiamento tripartite, com participação da União, estado e município.