Ex-governador, ex-deputado e prefeito e ex-prefeito de Guanambi, o veterano Nilo Coelho é enfático ao falar do momento delicado que atravessamos, gerado pela pandemia do novo coronavírus. Para ele, a solução para a crise atual está na força do trabalho. “Não há crise que resista à força do trabalho”. Questionado sobre a possível candidatura do ex-prefeito ACM Neto ao Governo do Estado em 2022, Nilo diz que “é chegada a hora de uma alternância de poder na Bahia” e que o ex-prefeito e atual presidente nacional do DEM “é um candidato competitivo”.
O senhor é ex-governador, ex-deputado e já foi prefeito algumas vezes. O que o motivou a entrar na briga e assumir a prefeitura de Guanambi de novo?
Na realidade, eu tenho uma verdadeira paixão por minha terra Guanambi, minha cidade natal. Trabalhar por Guanambi… A minha vida sempre foi de trabalho, quer seja no governo, quer seja na prefeitura. Esse realmente já vai ser meu quarto mandato de prefeito aqui na minha terra, mas eu fico feliz, eu me sinto bem, eu gosto de realizar.
Sabemos que as urnas geralmente trazem surpresas. Na eleição passada, o senhor estava praticamente eleito e no entanto perdeu. E nessa, muita gente não apostava na sua vitória e o senhor ganhou. Como viu o resultado das urnas?
Eu acho que o resultado das urnas foi esse de agora. Nas eleições passadas, no interior, tem maneiras, digamos assim, não muito democráticas de se enfrentar uma eleição. Então eu, vamos dizer assim, encontrei uma dessas. De que as pessoas procuram outros meios, através de nomeações, e eu realmente entendo, não veio o resultado que eu esperava por ter feito, por já ter trabalhado muito pela minha terra. Mas estou satisfeito, vou fazer o melhor que eu puder aqui por Guanambi.
O que o senhor pretende colocar como prioridade nos próximos quatro anos em Guanambi?
Veja bem, nós estamos vivendo um momento diferente. Normalmente, você dá uma ênfase muito grande na educação, para ter um índice bom no setor. Mas agora nós estamos vivendo um momento excepcional, diferente, que é essa pandemia. E é preciso se dar toda a atenção a essa pandemia e nós estamos fazendo isso já com toda uma equipe, já iniciamos a vacinação para passar esse momento delicado. Esperamos que esse ano essa parte da saúde seja vencida. Uma das coisas mais importantes que eu acho aqui e quero fazer é o Hospital Municipal de Guanambi. Um hospital só para a população de Guanambi. Então eu acho que é muito importante essa realização.
O senhor é o defensor da causa municipalista. Qual vai ser a principal pauta dos prefeitos esse ano?
Nesse primeiro ano, é saúde. Agora, cada município tem a sua particularidade. Uns precisam investir na educação, outros em estradas, cada um tem suas diferenças. Guanambi é importante porque serve de exemplo para os municípios vizinhos. Então a gente tem que trabalhar e tem essa responsabilidade de conduzir da melhor maneira possível. E nós vamos procurando dar o exemplo da seriedade, de tudo de melhor que pudermos fazer.
Como o senhor avalia a pandemia e o estado atual da doença, da Covid-19, prefeito?
Nós já vivemos muitas crises, tivemos a crise da malária, da febre amarela, já tivemos muitas crises que nos prejudicaram. Eu acho que estamos vivendo uma das mais pesadas, mais fortes, mas vamos vencer. O mundo inteiro está envolvido nisso e eu acredito que nós vamos vencer essa crise que é muito importante que se vença. Vamos em frente.
A gente está entrando em uma fase importante agora que é a fase da vacinação. O senhor já se vacinou? Como é que está o processo de vacinação aí na cidade?
Pela minha idade, eu podia ter vacinado, mas eu não sou daqueles de achar que vai dar o exemplo e que o exemplo resolve. Então, eu respeitei todo o processo, todas as colocações que foram feitas de você começar a vacinação pelos que estão servindo na saúde, nos abrigos de idosos, seguindo exatamente o que manda a campanha. Então, eu acho que é a maneira mais certa, apesar da minha idade já permitir. Eu tenho uma idade, mas a disposição é maior do que a idade.
Prefeito, como o senhor vê o agravamento da crise econômica e o fim do auxílio emergencial, que para muitas famílias foi a única fonte de renda ao longo desse período?
Você tem que voltar a desenvolver trabalho. Eu acho muito importante a oportunidade de trabalho. Então eu quero me dedicar muito à criação de novos empregos, buscar novas empresas para Guanambi. Porque essa questão de você ajudar, dar uma ajuda desse tipo, isso é coisa passageira. Não se pode se apegar muito a isso. Você tem que se apegar mesmo à sua fonte de renda, à sua independência. Eu vou lutar muito por isso, pela oportunidade de trabalho, de emprego, independente dessa colocação do governo de estar dando esse benefício para poder sustentar. É muito importante o bônus, mas isso é nessa época, isso passa e você tem que voltar à vida normal, ao trabalho.
Até porque, nas cidades pequenas esse benefício acabou ajudando a economia a circular e as famílias a, minimamente, se manter. Então, com o fim desse benefício, o que os prefeitos podem fazer para gerar emprego e renda?
Aqui em Guanambi existe uma área muito grande: serviços de construções. Por exemplo, nós temos um déficit muito grande de estradas pelo interior do município. Nós temos um déficit muito grande de água, então poços tubulares, adutoras, você tem realmente muito o que investir e com uma resposta imediata. Aqui nós tínhamos, por exemplo, o projeto de Ceraíma, que era um projeto de irrigação. Ficou parado por 9 anos, já recomeçamos esse projeto, já está funcionando, e gera muito emprego. Então esse projeto pode atingir 1.000 hectares, o que representa 3 mil, 4 mil empregos. Então nós estamos buscando exatamente isso, a renda através do trabalho, principalmente através da agricultura. E nós estamos buscando isso, vamos buscar isso por toda a região. Nos pretendemos também tocar a adutora do Poço do Magro, que vai beneficiar muitas propriedades, e vamos fazer todo o esforço. Nada vai sem trabalho. Eu uso muito um ditado que diz “não há crise que resista à forca do trabalho”. Então nós precisamos dessa força do trabalho para poder avançar e conquistar realmente nossa vitória.
O senhor tem uma experiência muito grande em gestão pública. O que o senhor diria a um prefeito que está começando agora, pela primeira vez, no exercício do mandato?
Eu acho que as pessoas se preocupam muito com o emprego. Eu acho que um emprego exagerado termina, vamos dizer assim, cortando o poder de investimento do município. Então você tem que fazer isso dentro da sua possibilidade. Não adianta avançar demais, porque você vai terminar atrapalhando os seus investimentos. Então é preciso que se faça dentro do limite. E aqui eu sempre procuro fazer isso para que as pessoas se sintam realizadas com o seu trabalho. O trabalho dignifica o homem. Então é realmente muito importante que ele busque o trabalho para a sua realização pessoal e da sua família.
Quais as áreas mais vulneráveis, mais sensíveis de uma administração pública e que precisam do apoio, de uma boa gestão, de uma boa equipe?
É preciso que você tenha a seriedade, porque o dinheiro não é seu e você não pode fazer qualquer coisa, e você tem que fazer com um respeito muito grande pelo dinheiro, porque esse é que é importante para servir o povo. Então quanto mais você trabalha, mais você gera emprego, mais o povo fica satisfeito. Então você vai buscando oportunidades. Desses 22 dias que eu assumi, eu estou buscando exatamente isso junto as diversas secretarias e dotando elas de um poder muito grande para que realize os seus objetivos, quer seja na educação, na saúde, na infraestrutura, em tudo. Guanambi é uma cidade que está chegando aos 100 mil habitantes, então é preciso ter muito cuidado com essas coisas.
E pelo que a gente tem acompanhado nesse começo, o senhor tem investido muito na questão sa transparência nos atos públicos. Essa vai ser uma marca da sua gestão?
Também. Eu acho muito importante a ideia dessa transparência. Eu, por exemplo, Deus me concedeu uma vida de sucesso, de trabalho. E eu, por exemplo, já disse publicamente que a ação social vai ter o recurso, o salário do prefeito. O salário do prefeito eu não vou receber, eu vou passar todos para os trabalhos de ação social. Então isso é um gesto, não é querendo ser melhor do que os outros, mas no meu caso não influencia, então eu prefiro que isso vá para as ações sociais, que ajude. Aqui na gestão passada nós tivemos um trabalho muito importante na ação social, tinha feiras no município que fazíamos sempre, até para Salvador nós levamos. Isso incentiva muito a produção dessa arte, de trabalhar.
Qual a expectativa do senhor do relacionamento com o governador Rui Costa? Como o senhor pretende manter?
O governador foi eleito, tem os seus méritos, não vou ser contra ele de maneira nenhuma. Se ele quiser me ajudar, eu estou pronto para receber a ajuda dele. Eu sou uma pessoa que respeita os poderes. Então eu acho que pela relação é muito importante não se perder isso. Vamos em frente.
O ex-prefeito ACM Neto saiu fortalecido da última eleição. Isso o gabarita para disputar o governo do estado em 2022?
Ele está se preparando para isso. O ACM Neto é um candidato competitivo. Ele fez uma excelente administração em Salvador. Ele foi o melhor prefeito que já teve aí em Salvador, realmente a administração dele foi muito boa. E ainda conseguiu fazer um sucessor com uma votação expressiva…
Exato. O Bruno Reis, que também eu acredito que vá fazer uma boa administração, não só pelo que ele aprendeu trabalhando junto com o prefeito, não tenho dúvidas.
O PT está caminhando para 16 anos de governo na Bahia. É chegada a hora de uma alternância de poder?
Eu creio que sim. De fato é chegada a hora de uma alternância de poder na Bahia. Se você olhar as grandes cidades, todas elas deram uma resposta diferente. Salvador continuou com o grupo do prefeito, Feira de Santana também venceu o grupo dele, em Vitória da Conquista o Herzem foi reeleito, e em outras cidades, Camaçari, cidades do sul também… Eu acho que cresceu muito, acho que ele tem possibilidade de ganhar. Eleição se ganha no dia, não é assim na véspera não. Mas eu acho que ele tem possibilidade.
Para finalizar, o senhor, que é uma liderança forte do interior, teria disposição para entrar na chapa majoritária em 2022?
Não, eu agora quero servir à minha terra, meu objetivo maior é servir à minha terra. Eu já deixei uma vez, quando fui candidato a vice de Waldir Pires e dessa vez eu quero me dedicar realmente à minha querida Guanambi. Eu quero fazer isso com muito carinho.
Que mensagem o senhor deixa para a população de Guanambi e da Bahia?
Eu quero dizer o seguinte: não há crise que resista à força do trabalho. Então eu convoco os municípios da Bahia, os prefeitos, os governadores, que vamos nos dedicar ao trabalho para sairmos dessa crise. A crise da saúde, mas a crise da economia também. Com o trabalho, nós alcançaremos realmente esse objetivo. Mas é muito dedicado mesmo ao trabalho, com muita responsabilidade com os recursos públicos.
Fonte: A Tarde.uou