Governo anunciou aumento de impostos sobre o combustível; especialistas citam alternativas como cortar outros gastos ou repensar a necessidade do carro.
A analista de suporte Juliana Garcia Calado, de 32 anos, se assustou quando fez as contas e descobriu quanto deve gastar a mais para abastecer o carro após o aumento dos impostos dos combustíveis: R$ 17 por semana. “Nossa, tudo isso?! Não esperava que fosse tanto. Estava feliz porque recentemente tinha baixado quase R$ 0,10 o litro…”
Assim como Juliana, muitos brasileiros vão sentir os efeitos do aumento do preço dos combustíveis. Desde sexta-feira (21), o governo cobra R$ 0,41 por litro a mais de PIS e Cofins sobre a gasolina. Após o anúncio, filas de carros foram formadas em postos de combustíveis, com motoristas buscando garantir o tanque cheio antes de o aumento chegar nas bombas.
Mas correr para o posto não é solução, pois os consumidores devem agora avaliar como fica o orçamento com esse custo extra. Essa é a recomendação do educador Financeiro Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), e de André Bona, do Blog de Valor. Para eles, o importante é encontrar saídas para compensar o impacto que esse aumento trará para o orçamento da família.
Corte de gastos
Uma das opções pode ser até reavaliar se o uso do carro realmente compensa na comparação com o transporte público, táxi ou Uber, por exemplo. No entanto, Bona diz que é preciso cuidado para não acabar sacrificando a rotina em nome de uma economia pequena. Segundo ele, às vezes, é melhor buscar compensar a despesa extra com corte em outros gastos.
É exatamente isso que Juliana pretende fazer. Ela mora a em Cotia (SP), a 42 quilômetros de seu local de trabalho, no centro da capital paulista. “Eu gasto uma hora de carro. De ônibus, gastaria de 2 horas a 2 horas e meia. Teria uma redução de custo, mas eu teria que sacrificar minha qualidade de vida”, pondera.
“Uma dica que eu dou é que as pessoas tentem cortar os supérfluos de cima para baixo, do mais caro para o mais barato. Se a pessoa corta um gasto com filmes que custa R$ 20 por mês, pois exemplo, a família perdeu o lazer e, nas contas, vai ter pouco impacto. Ao passo que, se a pessoa consegue economizar 10% dos gastos no supermercado, no mês o resultado vai ser maior”, diz Bona.
Domingos também aconselha que o aumento seja compensado com cortes em outras despesas.
“É possível diminuir o impacto do aumento cortando por exemplo aqueles R$ 2, R$ 3 que se gastava com algo que não se precisava tanto, como aquele cafezinho no meio do dia. Esses pequenos ajustes compensam os R$ 0,41 as mais no litro da gasolina”, diz Domingos.
O carro é mesmo essencial para você?
Embora não seja o caso de Juliana, Domingos lembra que a substituição do carro por outro meio de transporte ainda pode ser uma boa alternativa para alguns consumidores. O especialista afirma que cada pessoa precisa questionar suas prioridades em relação ao que se gasta.
Para o Domingos, o reajuste dos combustíveis pode ser uma boa hora para mudar os hábitos. “Tem o transporte público, precisa mesmo usar carro? Não seria mais econômico usar os aplicativos de táxi?”, questiona.
Outros preços também podem aumentar
Ainda que o aumento de impostos atinja diretamente apenas os combustíveis, outros preços podem acabar subindo, como em uma reação em cadeia. Isso porque os custos de produção e transporte de vários produtos aumentampara as empresas, que ficam com duas opções: reduzir sua margem de lucro ou repassar o gasto extra ao consumidor.
Embora o Brasil viva um período de inflação em baixa, os educadores financeiros lembram que os consumidores devem estar preparados para um aumento de preços em produtos.
“Não se trata de um aumento isolado na gasolina, pois o consumo em geral será afetado, como alimentação, vestuário, lazer”, diz Domingos.
Já Bona comenta que o momento pode ser visto pelo consumidor como uma “oportunidade de melhorar seu perfil de gastos, para racionalizá-los de uma maneira mais inteligente”.
Apesar da pressão maior sobre o orçamento, os especialistas ressaltam a importância de manter o hábito de poupar, envolvendo toda a família no processo e estabelecendo metas. “É preciso fazer a lição de casa em relação ao que se está gastando”, diz Domingos.